A bela e o ‘monstro’
Conceito de Filipe Gill inspirado na arte de Roy Lichtenstein e gerado pelo Adobe Firefly
Para muitas pessoas na indústria criativa, a Inteligência Artificial suscita questões existenciais. Será isto o fim da nossa profissão? Devemos considerar rapidamente alternativas para o nosso ganha-pão: guarda noturno? marceneiro? Canalizador?
Neste artigo, vou partilhar a minha leitura da realidade, de forma tão natural quanto possível, com foco nas minhas áreas de trabalho: design, branding e conteúdos.
Potenciar versus substituir
Entendo que é fundamental não desistir de pensar e criar. Por isso uso a IA como ferramenta de trabalho que ajuda a produzir peças a partir de ideias e conceitos que eu desenvolvi. Ou seja, a ideia tem que ser sempre de base humana e natural, por muito tentador que seja usar ‘muletas’ para pensar.
Dou um exemplo: uso o Waze ou o Google Maps para orientar a navegação, mas não para substituir a noção espacial que acho que devo continuar a ter.
Como designer, é muito útil poder usar a IAG (Inteligência Artificial Generativa). Mas devo resistir à tentação de me tornar “preguiçoso”.
A arte do prompt
Não sou especialista em ‘prompts”. Mas estou bem melhor do que há um ano. Antes do Firefly e do Nano Banana. É uma sensação de enorme poder dar uma instrução e “criar” uma imagem que achamos bonita ou feliz. E as competências necessárias para produzir ‘prompts’ de qualidade são algo que temos que desenvolver e dominar. Mas só até certo ponto. Porque senão não sobra tempo nem espaço mental para atividades não-tecnólogicas que nos permitem continuar a poder produzir ideias ‘naturais’ e “humanas’.
As questões éticas
Estou a trabalhar numa série de imagens para um projeto em que uso estilos de pintores de que gosto muito, em particular os Impressionistas. Será que tenho legitimidade moral e criativa para o fazer? Por um lado, estou a apropriar-me do trabalho e talento de artistas para o meu trabalho comercial. Isto é mau. Por outro, estou a promover e divulgar o trabalho e a arte destes meus heróis, pouco conhecidos de uma crescente parte da população. Isto pode ser bom. Se, sem exceção, fizer clara indicação do autor em causa e promover a sua divulgação.
De designer a curador
Durante décadas fomos designers. A parte da execução era o que nos distinguía. Pediam-nos “por favor” e no fim ainda nos pagavam. Hoje enviam imagens que foram desenhadas numa versão gratuita do ChatGPT. Hoje qualquer pessoa pode criar um logotipo, fazer um vídeo ou uma imagem para as redes sociais.
Mas…
Décadas de experiência devem contar para alguma coisa, certo?
Mas só se conseguirmos provar ao Mundo que temos um olhar único sobre os desafios de comunicação e marketing. E que este ponto de vista é útil e pode ajudar a vender e valorizar os produtos ou serviços dos nossos Clientes.
Se não, a chave inglesa espera por nós: canalizadores são precisos!
Nota (1): Só utilizo ferramentas que – tanto quanto sei – usam imagens e recursos legítimos e eticamente válidos como o Adobe Firefly.
Nota (2). Este artigo foi deliberadamente escrito de forma espontânea e pouco polida para que fique cristalino que foi escrito exclusivamente com “inteligência natural”. Será também a imperfeição que nos destinguirá no futuro (muito próximo).