Heróis de papel
Photo by Engin Akyurt @ Pexels
Em qualquer carruagem de comboio, metro ou autocarro a cena repete-se: os viajantes de um lado e do outro, nas plataformas, nas estações…praticamente todas as pessoas estão a olhar para o seu telemóvel. Os que vão sozinhos e os que vão em casal, também os que vão em grupo.
Quase todos nós habituámo-nos a caminhar a mandar mensagens, a atravessar num semáforo a mandar um whatsapp, a viver sem descolar os olhos do nosso telefone inteligente. Vemos vídeos de entretenimento, informamo-nos, procuramos companhia ou demonstramos aos nossos amigos nas redes sociais como somos tão felizes e que bem que estamos na vida.
O telemóvel tornou-se nos últimos anos o meio de pagamento, guia - tanto a andar como no carro -, despertador, câmara fotográfica, vídeo, equipamento de música… e também o nosso canal de informação privilegiado. Praticamente todos os habitantes do mundo, desde as tribos mais remotas de África ou das montanhas mais altas do Tibete, vasculham o telemóvel a todas as horas do dia.
Neste cenário, que se acelerou a um ritmo vertiginoso nos últimos dez anos, a informação que nós, cidadãos, recebemos tem-se tornado mais superficial, mais audiovisual, mais curta e mais sujeita a possíveis enganos e notícias falsas. Enquanto consumidores de informação, assistimos impotentes a manipulações eleitorais, guerras comerciais e batalhas políticas. Ou a fraudes e burlas online, a empresas e indivíduos, mesmo aquelas que supostamente possuem os sistemas de proteção mais caros e sofisticados.
Por todas estas razões, os meios de comunicação tradicionais, aqueles que têm um editor responsável, um diretor ao leme, que são geridos e produzidos por profissionais, que respondem pelos seus atos perante os tribunais se cometerem algum tipo de falha, são cada vez mais necessários. Meios de comunicação que, seja qual for o suporte, são o contrapeso necessário a esses outros “panfletos” que nos inundam de informação manipulada, sem origem identificada e nos quais se escondem muitas vezes interesses ocultos por detrás da urgência do ser humano atual em consumir notícias descartáveis.
Estes meios de comunicação “tradicionais”, alguns deles numa versão apenas online, tornaram-se verdadeiros heróis de papel, que lutam para preservar o melhor do jornalismo e para continuar a informar o cidadão com a vocação de servir a sociedade e não de se servir dela. Claro que estes meios de comunicação social também têm falhas e defeitos, cometem erros e podem ser melhorados, mas são quase uma espécie em vias de extinção e, tal como as espécies naturais que se estão a perder, temos de os proteger, porque deles depende a informação credível, a nossa cultura e valores, o próprio sistema democrático e a liberdade enquanto cidadãos.
A todos os profissionais que fazem diariamente a imprensa séria, a de toda a vida, aquela que tem rosto, olhos e marcas identificáveis, por favor continuem a fazer o que fazem durante muitos mais anos. Não deixem que o desânimo vos leve a deitar a toalha ao chão. Nós, cidadãos em geral, e nós, os profissionais que dedicamos àcomunicação empresarial, precisamos de vós.