Na era da fragmentação, comunicar é preciso?

Photo by Kağan Karatay @ Pexels

Nos tempos que correm, ninguém lê até ao fim. Ouve-se aos soluços, vê-se aos bocados, comenta-se sem contexto. A comunicação anda em modo snack: rápida, solta, fragmentada — e muitas vezes indigesta.

Mas comunicar é mais do que espalhar mensagens ao vento. É conseguir que alguma coisa se construa em nós a partir do confronto com o outro, é refletir — mesmo quando tudo passa. É deixar uma ideia inteira no meio do ruído e fazer disso conhecimento e quadro de leitura da realidade.

Vivemos num ecossistema de dispersão crónica. Um post no Instagram, um vídeo de meia-dúzia de segundos, uma newsletter de que só lemos os títulos. Como se tudo tivesse de ser diversão ou distração. 

As marcas falam para todos, em todo o lado, mas poucas conseguem manter uma narrativa com sentido. Porque comunicar hoje é também resistir: à pressa, à distração, à tentação de dizer só porque sim.

A resposta não é fazer mais. É fazer com critério. É saber o que dizer, a quem, quando e com que tom — sem perder o fio à própria história. Não se trata apenas de escolher canais: trata-se de ter alguma coisa com relevância que mereça ser dita e fazê-lo com autenticidade e eficácia.  

A coerência é o novo luxo da comunicação. Num tempo em que tudo se mede em impressões, cliques e views, manter uma identidade viva e reconhecível é um ato estratégico — quase político. E sim, às vezes comunicar bem é saber ficar calado no momento certo.

Num mundo onde tudo é ruído, dispersão e scroll, comunicar tornou-se um ato de precisão. Um gesto com intenção.

A comunicação pode estar fragmentada, mas não tem de ser um monte de cacos à volta da nossa cabeça. Comunicar é preciso. Cada vez mais.

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