Liberdade de expressão e desinformação: como lidar na era das redes sociais e da IA
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O advento das redes sociais transformou profundamente a forma como comunicamos. Proporcionou-nos uma plataforma para partilharmos opiniões, exprimirmo-nos e ligarmo-nos a outras pessoas de forma rápida e global. Paralelamente, a inteligência artificial (IA) reforçou esta capacidade, facilitando a divulgação massiva de informações e melhorando o alcance das nossas palavras. No entanto, estas ferramentas também geraram um fenómeno preocupante: a proliferação da desinformação.
Atualmente, o desafio que enfrentamos é encontrar um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a contenção da desinformação. Como podemos aproveitar o poder das redes sociais e da IA sem sermos arrastados para um mundo onde as mentiras e a manipulação ofuscam a verdade?
Liberdade de expressão: um direito essencial
A liberdade de expressão é um dos direitos fundamentais numa sociedade democrática. Permite-nos partilhar ideias, discutir questões controversas e desafiar normas estabelecidas. Neste sentido, as redes sociais democratizaram a voz pública, permitindo que pessoas de diferentes origens participem no debate global.
No entanto, esta liberdade também coloca novos desafios. O que antes eram conversas em círculos limitados têm agora o potencial de chegar a milhões de pessoas numa questão de segundos. Isto significa que comentários irresponsáveis ou falsos podem ter repercussõessignificativas na opinião pública e na sociedade.
Desinformação: o lado obscuro do ecossistema digital
Por outro lado, a desinformação tem proliferado a um ritmo alarmante nas plataformas digitais. A facilidade de criar e distribuir conteúdos, combinada com algoritmos concebidos para maximizar a interação, permitiu que informações falsas ou enganosas se espalhassem rapidamente. A IA facilitou a criação de notícias falsas (fake news), deepfakes e campanhas de manipulação que podem influenciar eleições, prejudicar a reputação de pessoas e organizações ou alimentar teorias da conspiração.
As bolhas informativas e os preconceitos de confirmação, impulsionados pelos algoritmos das redes sociais, agravam este problema. Os utilizadores tendem a receber informações que reforçam as suas crenças prévias, isolando-os de diferentes perspetivas e tornando a desinformação mais difícil de detetar.
Como enfrentar o desafio: ações individuais e coletivas
Confrontados com este dilema entre liberdade de expressão e desinformação, tanto as plataformas tecnológicas como os utilizadores partilham responsabilidades. Eis algumas estratégias possíveis para enfrentar este desafio:
1. Alfabetização digital e crítica
Um dos passos mais importantes é promover a literacia mediática e o pensamento crítico na população. Os utilizadores têm de estar conscientes das fontes de informação que consomem e desenvolver competências para verificar a veracidade dos conteúdos que encontram online. Em vez de partilharem informação impulsivamente, as pessoas têm de se habituar a questionar o que veem, mesmo quando coincide com as suas opiniões.
As escolas, as universidades e as organizações da sociedade civil podem desempenhar um papel fundamental neste domínio, integrando nos seus currículos a educação sobre a desinformação e as redes sociais. Aprender a identificar preconceitos e a distinguir fontes fiáveis de fontes não fiáveis é vital para reduzir a influência da desinformação.
2. Responsabilidade das plataformas tecnológicas
As redes sociais têm uma enorme responsabilidade neste problema. As empresas tecnológicas devem comprometer-se a melhorar os seus mecanismos para detetar e limitar a propagação de informações falsas, sem comprometer a liberdade de expressão. Isto pode incluir algoritmos mais avançados que filtrem os conteúdos perigosos, mas também um maior investimento na moderação humana para garantir que as decisões não são completamente automáticas e têm um contexto adequado.
Devem também ser mais transparentes sobre a forma como os seus algoritmos funcionam e permitir que os utilizadores tenham mais controlo sobre o que veem. Iniciativas como a sinalização de informações verificadas, alertas sobre conteúdos potencialmente falsos e a colaboração com verificadores de factos são passos positivos, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
3. Regulação ética da inteligência artificial
À medida que a IA continua a evoluir, é necessário estabelecer quadros éticos para o seu desenvolvimento e utilização. As aplicações de IA que criam conteúdos, desde assistentes automatizados a sistemas geradores de texto, como os chatbots, devem ser desenvolvidas segundo princípios éticos rigorosos que impeçam a criação e a difusão intencionais de desinformação.
Além disso, criar uma IA responsável significa garantir que estes sistemas não perpetuam ou amplificam preconceitos. Os algoritmos que priorizam os conteúdos baseados apenas nas interações podem fomentar a desinformação se não forem concebidos de forma adequada.
4. Promoção da diversidade de vozes
Para combater a polarização e a propagação de informações falsas, é crucial fomentar uma maior diversidade de perspetivas nas plataformas digitais. Isto pode ajudar a quebrar as bolhas informativas e a garantir que os utilizadores sejam expostos a diferentes pontos de vista.
Por seu lado, os meios de comunicação social tradicionais devem adaptar-se a este ambiente digital e assumir um papel mais ativo na verificação dos factos e na desacreditação dos rumores. Numa era em que qualquer pessoa pode criar conteúdos, o jornalismo ético e rigoroso é mais importante do que nunca para fornecer informação fiável.
Um equilíbrio entre liberdade e responsabilidade
O desafio de lidar com a liberdade de expressão e a desinformação na era das redes sociais e da IA não é simples. A liberdade de expressão continua a ser um pilar essencial de qualquer democracia, mas deve ser acompanhada de responsabilidade. As plataformas devem atuar como facilitadoras de um diálogo genuíno e construtivo e não como amplificadoras de falsidades. Do mesmo modo, os utilizadores devem assumir um papel ativo e crítico na forma como consomem e partilham a informação.
O equilíbrio é possível, mas exige esforços conjuntos de todos os intervenientes: utilizadores, empresas tecnológicas, governos e organizações educativas. Só com uma abordagem consciente e coordenada poderemos aproveitar as oportunidades da era digital e, ao mesmo tempo, mitigar os seus riscos.
Por Estefanía Campos, diretora do Estudio de Comunicación.