Redondo: notas de um fim-de-semana

Comemorações do 25 de Abril no Redondo. Foto de Filipe Gill

Sábado de manhã pusemos-nos a caminho e depois de uma passagem por Arraiolos para almoçar, chegamos a Redondo a meio da tarde.

Primeira surpresa: a vila tem muita vida, tem gente na rua, tem comércio local aberto, mesmo num Sábado à tarde.

Na loja Aurora perguntamos sobre onde ficar, bem no centro. A senhora, muito prestável, recomendou o Bastião de António Azarujo. 20 minutos depois estávamos bem instalados num quarto simples mas confortável. “Pagamos já?”, “Paga quando quiser.” A confiança e sentido humano ainda bem vivo no Alentejo.

Ao fim da tarde passamos por uma cervejaria onde um grupo de homens novos cantavam de forma expontânea na rua, já bem afinados e de garrafa na mã para limpara a garganta. No Beldroegas Bar pessoas dançavam ao som da juke box...

Jantamos nos Arcos onde tivemos por companhia uma família de estrangeiros residentes e 2 mesas com jovens locais. Estava razoável o Ensopado de Borrego, prestável e simpático o nosso anfitrião, a quem perguntamos pelo Vitorino e os demais Salomé. “Está para Leiria a cantar por ocasião do 25 de Abril”.

Um passeio depois do jantar levou-nos, por acaso, ao Centro Cultural onde, vendo alguma azáfama, perguntamos o que se passava. “Peçam 2 bilhetes gratuitos e entrem que vai valer a pena” disseram-nos. Assim fizemos e 1 hora depois saímos mais conhecedores da história de Redondenses antigos que com a audiência partilharam notas da sua infância quando peixe e carne eram para dias de festa e o trabalho, de sol a sol, era duro e monótono.

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Domingo começa cedo com um passeio pela vila e um belo pequeno almoço no “Olha, aqui há pão”, incluído no preço do quarto. Bela ideia: não só o pequeno almoço saiu fresco e nutritivo, como vamos vendo e ouvindo as muitas pessoas que vinham buscar o seu pão, trocando sempre uma palavra com a simpática e eficiente jovem moça que, com ritmo e simpatia, fatiava pão e enchia caixas de popias para levar.

Até ao Museu do Vinho são 2 passos e ficam na memória as talhas de barro assim como alguma informação sobre o vinho neste concelho. Potencial para melhorar, mas a nossa anfitriã foi, mais uma vez, de grande disponibilidade e simpatia.

Farnel preparado, cantís cheios, seguimos para a Serra d’Ossa. Como gostamos de “deambular” fomos parar ao Alandroal,concelho vizinho, onde bebemos café. Logo seguimos a caminho da desejada serra para fazer os passadiços. Em boa hora o fizemos: depois de alguma chuva a Primavera estava gloriosa e a subida à Ermida fez-se sem esforço e com constante deslumbramento, mesmo para que pouco de flora percebe.

Acabamos a caminhada pelas 3 da tarde e, descendo a estrada da serra ainda consideramos ir ao lendário Chana, mas decidimos voltar ao Redondo diretos à Porta da Ravessa, mas com o objetivo de conhecer a Enoteca, espaço perfeito para provar vinho. Fomos recebidos por uma verdadeira anfitriã: Maria Eugénia, Redondense e mãe de 3 filhos. Deu-nos a provar vinho do Redondo, de cujas marcas não falarei agora, mas um desconhecido nos despertou a curiosidade: Quinta do Freixo.

Como a fome apertava, pedimos o melhor acompanhamento possível: painho cortado bem fininho, queijo de ovelha, pão e azeitonas. Momento de paz e felicidade. Mais um.

Mas logo saímos em direção à Oficina das Ruas Coloridas, recomendação da nossa nova amiga, Maria Eugénia. Queriamos muito conhecer este espaço porque só tínhamos ouvido falar das de Campo Maior e parece que estas são mais antigas…

Por nabice minha, fomos parar à porta errada e pensamos que estava fechada a dita Oficina.

Mas não desanimamos: Luísa ficou a ler no largo da Igreja do Calvário e eu fui ver o final do jogo de futebol que ali no estádio municipal decorria. Jogama o Redondense com o Estrelas de Vendas Novas. Comprado o bilhete de não-sócio por módicos €4, entrei para a bancada com o resultado em 1-1. Menos de 5 minutos depois o Redondence faz o 2-1 na sequência de um livre apontado da ala esquerda e desviado de cabeça à entrada da pequena área. O Estrelas de Vendas Novas haveria de beneficiar de um pênalti que foi convertido com sucesso, ficando o resultado final nuns salomónicos 2-2.

O dia já ia longo, mas seguimos diretos para o Celeiro do Pinto, um restaurante bem simpático, feito a partir da recuperação de um antigo celeiro, e sim o nosso simpático anfitrião chama-se Pinto e é da Serra da Ossa. O jantar foi coisa simples: pimentos assados e cogumelos salteados de entrada; ensopado de galo, seguido de Sopa de Rala e Sericaia com ameixa de Elvas. Porta da Ravessa tinto com a sua trilogia de castas — Trincadeira, Aragonês e Alicante Bouschet, se a memória não me falha, tem estaleca para lidar com o robusto galo.

Sem perder tempo seguimos para o espetáculo musical dos “Monda” uma banda alentejano com uma sonoridade muito interessante e que revê algumas “modas” (…).

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Segunda-feira, 25 de Abril.

Começamos o dia bem cedo com mais um pequeno-almoço acompanhado das gentes de redondo, com uma palavra de preocupação para com a filha da nossa anfitriã que tinha ido ao centro de saúde. Aparentemente nada de grave; antes assim.

Seguimos para a praça da República onde vimos algo que muito nos sensibilizou: uma bandeira da Ucrânia que ficaria mais tarde ao lado da nossa, na cerimónia do hastear da bandeira.

Acompanha-nos Maria Eugénia, da Enoteca, que conosco partilhou histórias da sua vida e de Redondo, assim como nos ia indicando algumas pessoas que por lá passavam. Falou com muito orgulho no seu filho do meio, que sofrendo de doença mental, faz parte da comunidade, com completa integração social, profissional e, sobretudo, afetiva.

A banda toca o hino do MFA, a Grândola, Depois do Adeus. O Presidente faz um discurso muito interessante, com uma referência à guerra que vivemos como símbolo da ameaça à liberdade. Partilho a ideia de que a liberdade não é um dado adquirido: temos que por ela lutar todos os dias.

Malas feitas, hora de abalar. Não sem mais uma experiência, que só por si teria valido a viagem. Pomo-nos a caminho da aldeia do Freixo onde paramos no café local para comprar água e fruta. Perguntamos à nossa anfitriã onde começa o Percurso das Antas. Na estrada principal do lado esquerdo de quem vai para Redondo já se avista o Lavadouro. Seguimos as muito ténues indicações até nos perdermos no montado de sobro onde vimos porcos, cavalos e vacas. À sombra de uma azinheira que já não sabia a idade, descansamos, observamos aves e contemplamos o silêncio. Mais um momento de paz e felicidade.

Com a promessa de voltarmos para o ano para a Festa das Ruas Coloridas, seguimos viagem de volta para Lisboa.

Notas:

No Redondo, lojas e museus estão abertos ao Domingo. Bom senso!

O almoço de Sábado em Arraiolos: melhor fora que tivesse sido em Redondo. Sopa de Tomate com o dito saído de uma lata : (

Ficou a faltar uma visita ao Museu do Barro e algumas olarias

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