Television is dead. Welcome to true interactivity.

Illustration by Filipe Gill

Illustration by Filipe Gill

Podemos considerar o período que vai desde o final da II guerra até ao início do séc. XXI como a época de ouro da televisão. Este foi talvez o mais poderoso media que o mundo já conheceu.

Mas hoje a televisão é um meio de comunicação anacrónico e a tendência será para o seu rápido declínio enquanto meio de massas. Quer isto dizer que a TVI ou a SIC vão desaparecer? Não, se mudarem a sua forma de pensar, produzir e distribuir conteúdos. E se adaptarem o seu modelo de negócio.

A televisão é tradicionalmente um meio de comunicação uni-direccional. A TV emite e nós consumimos o que nos enviam. A internet acrescenta um conceito simples mas poderoso: a interação. Agora as pessoas podem ver os conteúdos que quiserem, quando quiserem.

Este poder para o “telespectador” muda as regras do jogo e promove maior exigência sobre a qualidade dos conteúdos que durante anos foi mais ou menos previsível e focada no maior denominador comum.

O contexto.

Uma destas noites estávamos na sala a ver um filme na televisão – coisa rara nos dias que correm – e a determinada altura reparei que os 4 adolescentes lá de casa estavam todos a olhar para o respectivo dispositivo móvel.

Isto quer dizer o quê? Ilustra o facto de que as pessoas que vêm regularmente televisão fazem parte das gerações mais velhas. Isto significa que a televisão faz parte do passado e não fará parte do futuro. Da geração Millenials para baixo, o consumo de conteúdo audiovisual é maioritariamente feito em dispositivos que não a TV. Quase sempre móveis e relativamente pequenos. Para nós, estranho, para eles, normal. Do consumo colectivo de audiovisual passamos para o consumo individual. A excepção à regra é o cinema. Por enquanto.

A curadoria de conteúdos.

A Direcção de Programas do canal de televisão foi durante décadas o nosso curador de conteúdos. Agora a escolha de conteúdos é do consumidor, e isto levanta a questão de como formamos a nossa opinião do que queremos ver. Penso que os curadores serão cada vez mais os ratings online, os nossos “amigos” e aqueles que por uma razão ou outra são considerados fazedores de opinião. É um caminho perigoso mas que terá que ser feito.

O exemplo Netflix.

A Netflix representa a institucionalização do novo modelo de consumo de conteúdos na área da ficção e documentário. À medida que o seu arquivo de filmes e séries vai crescendo, será cada vez mais tentador “ver televisão” na Netflix. Eu sou subscritor deste serviço em Portugal desde o primeiro dia e a experiência tem correspondido às expectativas não só para ver conteúdos clássicos, como Casablanca de Michael Curtiz, dramas escandinavos como The Bridge, e documentários fantásticos como o “Chefs Table”.

E o que quer isto dizer para nós que trabalhamos em Marketing?

Quer dizer que a principal ligação entre marcas e consumidores e clientes deixará de ser feita por media tradicionais.

Quer dizer que teremos que produzir conteúdo “publicitário” mais interessante, mais inovador e mais focado na crescente segmentação de públicos e media. Melhor ainda: teremos que deixar a publicidade para trás e concentrar em contar histórias interessantes sobre os produtos e serviços dos nossos Clientes. Sugiro que a este propósito vejam o meu vídeo sobre Content Marketing.

Teremos todos que ser mais honestamente criativos do que fomos no passado, menos bullshit, menos “vamos contratar uma celebridade”, mais acções que criem verdadeira empatia com as marcas. Mais qualidade de execução, direcção de arte de excelência, escrita de qualidade, subtileza, humor e rigor.

Artigo originalmente escrito em Janeiro de 2017. Esta versão tem pequenas atualizações.


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