Trabalho remoto: um mundo de possibilidades para os territórios de baixa densidade

Foto: Blue Bird

Uma amiga sofre de dores nas costas. Para agravar a sua condição, a deslocação diária para o escritório estava a ser muito penosa. Sugeri-lhe: “porque não trabalhas em casa parte do tempo?”. Questionou a minha saúde mental. “Estás parvo? Eu trabalho para a administração pública. Nunca iriam aceitar uma coisa dessas”. Estávamos em 2016. Nessa altura ligações de internet robustas e cloud computing já estavam acessíveis e generalizados. Não se tratava, portanto, de um impedimento técnico. Por isso continuou a fazer a peregrinação diária, junto com milhares de pessoas cujo trabalho é feito sentado em frente a um computador e ao lado de um telefone. Hora de ponta, filas de trânsito; greves do metro, chuva e frio. Tudo isto para se ir sentar à frente de um computador com ligação à internet menos rápida do que tem em casa.

Março de 2020. No início da pandemia, o Governo decreta que as pessoas que não trabalham em ocupações que exigem a presença física, passam a ficar em casa. Assim, de uma penada, nasceu o trabalho remoto em Portugal. De repente milhares de trabalhadores da administração central e local, de grandes empresas nacionais e multinacionais e de muitas PMEs deram início a um gigantesco ensaio sociológico. Forçado, claro. Quase sempre estas mudanças estruturais decorrem de um evento extremo como uma guerra ou pandemia.

E num curto espaço de tempo seguimos o exemplo de nações como os Países Baixos que já antes da pandemia tinham mais de 14% da força de trabalho a trabalhar remotamente e ensaiam agora legislação para tornar este tipo de trabalho um direito legal dos trabalhadores.

E o que é que isto tem a ver com territórios de baixa densidade populacional (TdBDP)? Tudo. A mudança de paradigma sobre o que é o local de trabalho permite explorar novas e interessantes possibilidades laborais e modo de vida.

Por exemplo, trabalhadores e prestadores de serviços como consultores, contabilistas, advogados, programadores ou designers podem comprovadamente trabalhar a partir de espaços físicos diferentes e distantes.

Imaginem os cenários: Sofia está às 8 da manhã a apanhar ovos frescos do galinheiro para o pequeno almoço dos filhos e às 9 a reunir com a sua equipa de estratégia.

Sean, consultor fiscal conclui uma reunião com o seu cliente em Dublin e segue depois para uma caminhada pela Serra da Estrela.

Raquel que encontrou uma pequena quinta onde pode explorar a sua paixão pela olaria e vender as suas peças para qualquer parte do Mundo.

Já estou a ouvir muita gente dizer “a mim não me apanham a viver nas ‘berças’”. Ou “Ninguém me tira a cidade, o cinema, o teatro, os restaurantes”. Compreendo, mas deixo duas questões para reflexão e discussão:

01. Porque não podemos considerar a possibilidade de viver em territórios diferentes? Por exemplo, viver uma parte do ano no Alentejo, outra parte na Beira Interior? E manter base na grande cidade? Para quem não tem filhos pequenos isto é assim tão absurdo?

02. Porque é que muitos dos novos residentes do Interior de Portugal vêm de outros países da Europa ou América do Norte? Não será porque as mentalidades nestes países não desqualificam a vida fora das cidades?

Isto leva-me ao outro lado da equação: o que podem os dirigentes destes territórios fazer para atrair estes novos residentes a tempo inteiro ou parcial? Muitos já estão a trabalhar neste sentido, como é o caso do Work From Centro de Portugal em associação com o Turismo do Centro.

Mas mais pode ser feito, sobretudo no árduo trabalho de mudar mentalidades e lutar contra preconceitos. É neste desafio que o Estúdio de Comunicação através do projeto Quintessencial Portugal quer participar. Ajudar os TdBDP a mudar mentalidades; a demonstrar as vantagens destas novas possibilidades a portugueses e estrangeiros. Ajudando a desenhar e implementar estratégias de comunicação eficazes. Não o fazemos só porque temos competências técnicas e uma equipa experiente; fazemo-lo também porque temos a convicção de que esta é uma causa que vale a pena apoiar: potenciar o Interior de Portugal e ajudar a consolidar a coesão nacional.

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